Laércio Lins
“Nada do que
foi será”. Sempre foi assim, as mudanças culturais e tecnologias chegam para
desenvolver e mudar as maneiras de se fazer as coisas. Os aplicativos viraram
ferramentas de viver, criaram dependência e agora são culturas que vieram com a
era pós digital e não se pode negar suas interferências no comportamentos das
pessoas nos últimos tempos.
A
determinação judicial de paralisar o whatsapp durante dois dias no Brasil me
acordou para algumas afirmações e perguntas. O Brasil está sendo massacrado pela
corrupção a partir de pessoas e autoridades que deveriam cuidar do bem estar de
nosso pais. Não estamos só sem governo, estamos também sem bom senso, há
pessoas que dependem do whatsapp para trabalhar e não se pensou nestas pessoas
e nos prejuízos causados a elas. Não vejo diferença entre essa ação e a ação de
pessoas que protestam bloqueando vias públicas penalizando pessoas que muitas
vezes nem sabe os motivos dos protestos. Independentemente disso, outra coisa
que me preocupa no episódio da suspensão do aplicativo é o fato de quem
solicitou a paralização ter a garantia de sigilo e a falta de clareza sobre os
motivos. Pessoas são sacrificadas com uma decisão sem saber o porquê. Onde está
a clareza das regras e das ações?
Ações por
conveniência me incomodam. Em Recife, no bairro Imbiribeira, tem uma avenida de
mão dupla chamada Arquiteto Luiz Nunes, na qual a velocidade determinada em um
sentido é 40 Km/h com trechos de 30 Km/h e no sentido contrário, 50 Km/h com
trechos de 40 e 30 km/h. É para confundir os motoristas? O descaso é tão grande
que nossa inteligência é subestimada. A quem interessa isso? O dinheiro gerado
pelas fábricas de multas não se transforma em organização do transito nem reduz
os buracos existentes nas vias.
O cidadão
comum não tem a quem recorrer e quando tem, a burocracia é tão grande e lenta
que inibe, é preciso ter muito tempo disponível quando é preciso buscar
direitos e as pessoas não dispõem desse tempo porque precisam trabalhar para
pagar impostos, taxas e multas para sustentar a pesada máquina governamental que
não governa.
Nossa
sociedade está doente, é triste ter que admitir isso, precisa de um tratamento
de choque de valores, ética e bom senso, coisas que só se consegue com educação,
diga-se de passagem, a nossa também foi destruída junto com nossa saúde e nossa
dignidade. Há estatuto para tudo, mas, não funcionam porque são desconectos,
difusos, não fazem parte do mesmo sistema nem dos mesmos objetivos, atendem
apenas interesses individuais ou de grupos. A maioria de nossos políticos,
homens que fazem nossas regras e leis, não têm a menor noção de gestão, responsabilidade
social, bom senso ou pensamento sistêmico, estão muito preocupados com
interesses próprios. A consequência de todo esse desgoverno é uma sociedade
alienada que, por ter perdido a esperança, agora se contenta com pão e circo
enquanto faz piadas sobre políticos e acredita que com isso está contribuindo
para uma sociedade melhor.
No dia em
que nós brasileiros entendermos a diferença entre liberdade e libertinagem, teremos
compreendido também o que é liberdade de expressão e vamos saber lidar com
nossos direitos e deveres. Feliz o país cujos líderes merecem a admiração de
seu povo, nós não temos esse privilégio e não dá mais para esperar eternamente
em berço esplêndido. Já passou da hora de cada um de nós abraçarmos nossa cota
de responsabilidade na reconstrução dos valores de nossas cidades, de nossos
estados e de nosso país, ensinando a nossas crianças com exemplo a não levar
vantagem em tudo. Enquanto isso não acontecer, o máximo que teremos serão
dúvidas e perdas sem explicações.
Instagram:
@laercio.lins