sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A crise é de valores

Laércio Lins


“Nada do que foi será”. Sempre foi assim, as mudanças culturais e tecnologias chegam para desenvolver e mudar as maneiras de se fazer as coisas. Os aplicativos viraram ferramentas de viver, criaram dependência e agora são culturas que vieram com a era pós digital e não se pode negar suas interferências no comportamentos das pessoas nos últimos tempos.

A determinação judicial de paralisar o whatsapp durante dois dias no Brasil me acordou para algumas afirmações e perguntas. O Brasil está sendo massacrado pela corrupção a partir de pessoas e autoridades que deveriam cuidar do bem estar de nosso pais. Não estamos só sem governo, estamos também sem bom senso, há pessoas que dependem do whatsapp para trabalhar e não se pensou nestas pessoas e nos prejuízos causados a elas. Não vejo diferença entre essa ação e a ação de pessoas que protestam bloqueando vias públicas penalizando pessoas que muitas vezes nem sabe os motivos dos protestos. Independentemente disso, outra coisa que me preocupa no episódio da suspensão do aplicativo é o fato de quem solicitou a paralização ter a garantia de sigilo e a falta de clareza sobre os motivos. Pessoas são sacrificadas com uma decisão sem saber o porquê. Onde está a clareza das regras e das ações?

Ações por conveniência me incomodam. Em Recife, no bairro Imbiribeira, tem uma avenida de mão dupla chamada Arquiteto Luiz Nunes, na qual a velocidade determinada em um sentido é 40 Km/h com trechos de 30 Km/h e no sentido contrário, 50 Km/h com trechos de 40 e 30 km/h. É para confundir os motoristas? O descaso é tão grande que nossa inteligência é subestimada. A quem interessa isso? O dinheiro gerado pelas fábricas de multas não se transforma em organização do transito nem reduz os buracos existentes nas vias.

O cidadão comum não tem a quem recorrer e quando tem, a burocracia é tão grande e lenta que inibe, é preciso ter muito tempo disponível quando é preciso buscar direitos e as pessoas não dispõem desse tempo porque precisam trabalhar para pagar impostos, taxas e multas para sustentar a pesada máquina governamental que não governa.

Nossa sociedade está doente, é triste ter que admitir isso, precisa de um tratamento de choque de valores, ética e bom senso, coisas que só se consegue com educação, diga-se de passagem, a nossa também foi destruída junto com nossa saúde e nossa dignidade. Há estatuto para tudo, mas, não funcionam porque são desconectos, difusos, não fazem parte do mesmo sistema nem dos mesmos objetivos, atendem apenas interesses individuais ou de grupos. A maioria de nossos políticos, homens que fazem nossas regras e leis, não têm a menor noção de gestão, responsabilidade social, bom senso ou pensamento sistêmico, estão muito preocupados com interesses próprios. A consequência de todo esse desgoverno é uma sociedade alienada que, por ter perdido a esperança, agora se contenta com pão e circo enquanto faz piadas sobre políticos e acredita que com isso está contribuindo para uma sociedade melhor.                 

No dia em que nós brasileiros entendermos a diferença entre liberdade e libertinagem, teremos compreendido também o que é liberdade de expressão e vamos saber lidar com nossos direitos e deveres. Feliz o país cujos líderes merecem a admiração de seu povo, nós não temos esse privilégio e não dá mais para esperar eternamente em berço esplêndido. Já passou da hora de cada um de nós abraçarmos nossa cota de responsabilidade na reconstrução dos valores de nossas cidades, de nossos estados e de nosso país, ensinando a nossas crianças com exemplo a não levar vantagem em tudo. Enquanto isso não acontecer, o máximo que teremos serão dúvidas e perdas sem explicações.


Instagram: @laercio.lins

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