Laércio Lins (*)
Ainda vai levar um tempo para as ferramentas virtuais disponibilizadas
na internet serem UTILIZADAS e não apenas usadas. “Navegar” deveria ser para
algum lugar, com um objetivo. Tenho ouvido pessoas falarem que estão sem tempo
para isso ou aquilo e ao mesmo tempo gastam horas a fio nas redes sociais com a
sensação de que estão fazendo network, em muitas situações o uso da internet
tem sido equivocado e contraditório.
Há pouco tempo, a internet nos trouxe recursos e agilidades até então inimagináveis.
Houve transformações em todos os lugares e segmentos do planeta, as distâncias
foram encurtadas pelas informações em tempo real e isso deveria ter ampliado a
disponibilidade do tempo das pessoas. Na realidade não é isso o que vemos, é
mais comum encontrarmos pessoas correndo desesperadas para conseguir realizar o
dia a dia.
Entre outros temas de administração tenho visto um interesse muito
grande sobre a gestão do tempo e tenho observado que um dos maiores causadores
da falta de tempo é a falta de objetivo, ainda não é comum encontrar pessoas
com um projeto de vida ou com um plano pessoal definido. Sem foco e sem metas as
pessoas se frustram. O universo virtual e o real se completam, não há diferença
entre entrar em uma biblioteca ou na internet para pesquisar. Se não houver
objetivo a sensação de desperdício de tempo é a mesma, quem aproveita os
recursos da internet, seja por motivos profissionais ou de laser, navega. Quem
passeia de site em site sem objetivo, perde tempo e naufraga.
O desenvolvimento da tecnologia e os efeitos causados pela utilização da
internet não devem ser tratados isoladamente, tudo faz parte de um contexto único,
cujo motivo é a otimização de recursos econômicos, humanos e sociais. As
ferramentas de internet são apenas alguns das inúmeras interferências, que podem
facilitar ou expor objetivos à ações desfocadas. Atualmente a cultura é
diferente da cultura de vinte ou trinta anos atrás, tudo é relacionado com
velocidade e agilidade, isso tem interferido na linguagem, na comunicação, no
comportamento e nas relações das pessoas e das empresas.
Não adianta insistir em velhos chavões sem questionar se cabem no novo
momento da humanidade. “Cultura leva tempo para ser mudada.” Será que ainda é
assim? Quase tudo de que dispomos hoje para viver foram concebidos,
desenvolvidos ou difundidos a partir de 1900, televisão, avião, plástico,
alimentos enlatados, conservantes, energia elétrica, computadores e outro
materiais e produtos. Junto com estas novidades surgiram novas doenças, novos
remédios e novos comportamentos. Houve mais mudanças culturais nos últimos cem
anos que em toda história da humanidade. Gestão do tempo, processos
organizacionais, qualidade total, respeito às divergências e diferenças sociais
e de gêneros, sustentabilidade ambiental, direitos e deveres nas relações de
consumo e de trabalho são alguns dos temas que têm reeditado novos conceitos em
um universo multidisciplinar. Já somos sete bilhões e meio de habitantes no
planeta, em 1900 a população mundial era de um Bilhão, seiscentos e cinquenta
milhões de habitantes (Dados da ONU). Esses números nos mostram um crescimento populacional
de mais de quatro vezes em pouco mais de um século, o que significa que a cada
dia precisaremos, devido a escassez de recursos, aprender a compartilhar e que
temos urgência em aprender a lidar racionalmente com a agilidade e os recursos
do universo virtual.
É preciso perceber que a ciência, a arte e a filosofia estão se
aproximando e dando forma a um mundo multidisciplinar, onde o real, o virtual,
a razão e a emoção são partes do mesmo cenário. O tempo e as ferramentas estão
disponíveis, a tecnologia e a internet são aliadas de quem sabe o que quer e
onde quer chegar, assim como, são
inimigas de quem não
tem destino planejado. O diferencial não está na quantidade das
tecnologias disponíveis, está na forma como são aplicadas e isso depende das
pessoas.
(*)Laércio Lins é palestrante e consultor organizacional
www.laerciolins.blogspot.com.br
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